Acre lidera destruição de áreas arqueológicas no país com quase 90% de perda de mata nativa

Chamadas de “tatuagens da terra” pelos grupos indígenas contemporâneos, os geoglifos contam parte da nossa história/ Foto: Reprodução

O Acre é o estado brasileiro onde o patrimônio arqueológico tem sofrido o maior impacto com o avanço do desmatamento e das mudanças no uso da terra. Uma análise realizada pelo projeto MapBiomas mostra que quase 90% das áreas ao redor de sítios arqueológicos no estado foram alteradas entre 1985 e 2023.

A vegetação nativa, que antes representava cerca de 70% da área no entorno desses locais, hoje ocupa apenas 10%, segundo o estudo. Essas mudanças afetam diretamente os chamados geoglifos do Acre, segundo o arqueólogo Eduardo Neves, da Universidade de São Paulo.

“Esses sítios estão sendo muito impactados pela transformação de floresta em áreas de pastagem e, mais recentemente, em áreas agrícolas para plantio de soja”, afirma.

A plataforma do MapBiomas passou a disponibilizar os dados dos quase 28 mil sítios arqueológicos cadastrados e georreferenciados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em todo o país. A partir dessas informações, foi possível analisar como a cobertura vegetal nesses locais se transformou nas últimas décadas.

Em 1985, mais da metade das áreas em um raio de 100 metros ao redor dos sítios arqueológicos brasileiros era composta por florestas, savanas e campos naturais. Cerca de 41,7% já haviam sido alteradas. Em 2023, o cenário se inverteu: apenas 41,5% dessas áreas mantêm vegetação nativa, enquanto quase 50% estão ocupadas por pastagens, plantações ou áreas urbanas.

Segundo o pesquisador, a destruição pode ser causada tanto pelo desmatamento em si quanto pelas novas formas de uso do solo, como a mecanização agrícola.

“O desmatamento pode trazer consequências irreversíveis para esses locais. Quando um sítio é destruído, não conseguimos mais reconstituí-lo. Trata-se de um patrimônio único”, alerta Eduardo Neves.

A Amazônia foi o bioma com maior aumento proporcional de perda de vegetação nativa ao redor dos sítios, passando de 19% para 47,5% em 38 anos. O problema, no entanto, atinge outras regiões, com estados como Rio Grande do Norte e Paraná, que também registram altos índices de alertas de desmatamento em áreas próximas a sítios arqueológicos.

Já em termos de quantidade de sítios registrados, a Bahia lidera o ranking com 2.700. Na sequência aparecem Paraná e Minas Gerais. Por bioma, a Amazônia abriga mais de 10 mil sítios arqueológicos, seguida pela Caatinga, com mais de 7 mil. O Cerrado tem quase 5 mil, a Mata Atlântica ultrapassa os 4.800, o Pampa soma 904 e o Pantanal, 123.

Fonte: Contilnet

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