A equipe do filme Geni e o Zepelim, inspirado na canção de Chico Buarque, anunciou mudanças importantes neste sábado (19), após uma onda de críticas à escolha inicial do elenco. A produção, que será filmada no Acre e ambientada em Cruzeiro do Sul, escalou uma atriz trans para o papel principal, após protestos de artistas e entidades ligadas à causa LGBTQIA+.
A polêmica começou na terça-feira (15), quando a atriz cisgênero Thainá Duarte foi anunciada como protagonista. A decisão foi vista como um caso de “transfake”, prática criticada por escalar artistas cis para interpretar personagens trans ou travestis. Geni, apesar de não ter o gênero especificado na música, é retratada como travesti na peça Ópera do Malandro (1978), também de Chico Buarque.
A diretora Anna Muylaert defendeu inicialmente a escolha, argumentando que a personagem poderia ter múltiplas interpretações simbólicas. No entanto, após intensa repercussão e diálogo com representantes da comunidade trans, incluindo a Associação de Profissionais Trans do Audiovisual (Apta), a equipe voltou atrás e decidiu reescalar o papel.
A Migdal Filmes, produtora responsável, divulgou nota afirmando que a mudança foi fruto de escuta ativa e reconhecimento do cenário atual de violência e apagamento das identidades trans no Brasil. “Consideramos que esta mudança é a atitude acertada”, declarou a empresa. A nova atriz que interpretará Geni ainda não foi anunciada.
A diretora reconheceu o equívoco nas redes sociais e pediu desculpas às pessoas que se sentiram apagadas pela ideia de representar Geni como uma mulher cis. Ela classificou o debate como “muito rico” e disse ter compreendido a importância simbólica da personagem para a comunidade trans.
Thainá Duarte, que inicialmente faria o papel principal, também se manifestou. “Lamento que todo esse processo tenha causado tanta dor. Reafirmo meu compromisso com a escuta, aprendizado e com a luta pela equidade”, escreveu a atriz em publicação nas redes sociais.
A escolha do Acre como cenário para as filmagens reforça o compromisso da produção em retratar a realidade amazônica e dar visibilidade a regiões pouco representadas no cinema nacional. O enredo pretende contar a história de uma prostituta amazônica em uma cidade ribeirinha, com um novo desfecho para a personagem – alterando o trágico final do musical original, com aval do próprio Chico Buarque.
Fonte: Contilnet