A Polícia Civil de São Paulo indiciou Yun Ki Lee, ex-diretor jurídico do Corinthians, por omissão imprópria na negociação do contrato de patrocínio entre o clube alvinegro e a empresa do ramo de apostas Vai de Bet.
Segundo o relatório final da investigação obtido pelo Metrópoles, a omissão de Yun Ki Lee teve um papel significativo na trama criminosa. De acordo com as autoridades, o ex-dirigente foi responsável pela checagem cadastral das empresas envolvidas na negociação, incluindo a “suposta intermediária”, mesmo existindo um setor específico no Corinthians para essa função.
A polícia estranhou o fato de o ex-diretor jurídico do clube não tomar nenhuma providência na negociação mesmo após ter identificado inconsistências na empresa Rede Social, que não correspondia à atividade de intermediação, não tinha experiência comprovada no setor, especialmente no ramo esportivo e era uma empresa inexpressiva, como apenas R$ 10 mil de capital social.
Além disso, Yun Ki Lee não sugeriu nem alertou sobre as possíveis irregularidades, mesmo ciente de que a empresa seria beneficiada com um pagamento de R$ 25 milhões, que sairia dos cofres do Corinthians.
O que diz o ex-diretor
Em nota, a defesa de Yun Ki Lee afirmou que o indiciamento do cliente constitui “afronta ao direito e aos fatos”. Os advogados contaram que o ex-diretor jurídico do Corinthians prestou depoimento como testemunha em julho de 2024, onde disse que sabia sobre os fatos e da própria participação na elaboração do contrato de patrocínio entre o clube alvinegro e a Vai de Bet.
Segundo o posicionamento Yun Ki Lee “fez de tudo para preservar os interesses do clube o que incluiu a pesquisa cadastral das pessoas físicas e jurídicas envolvidas; incluiu também inserção de cláusula de fiança prestada pelo representante legal da VaideBet no Brasil e de sua esposa”.
Yun Ki Lee ainda contou que não participou das negociações comerciais, e que por isso somente recebeu os dados que deveriam constar no contrato, incluindo os da empresa intermediadora e dos representantes. O ex-diretor jurídico também afirmou que sabia que a empresa não tinha atividade na intermediação, mas que em sua opinião jurídica, isso não era impeditivo, “pois havia outras atividades relacionadas que permitiriam a atuação”. Ele também contou que o capital social da empresa é um item “absolutamente irrelevante” para realizar a intermediação.
Veja nota na íntegra:
O indiciamento de Yun Ki Lee constitui afronta ao Direito e aos fatos. Ouvido como testemunha em julho de 2024, portanto sob o compromisso de dizer a verdade e nada omitir, Yun falou tudo o que sabia sobre os fatos e sua participação na elaboração do contrato de patrocínio com a VaideBet, na condição de Diretor Jurídico do Corinthians. Fez tudo para preservar os interesses do Clube, o que incluiu a pesquisa cadastral das pessoas físicas e jurídicas envolvidas; incluiu também inserção de cláusula de fiança prestada pelo representante legal da VaideBet no Brasil e de sua esposa. Yun não participou das negociações comerciais, e por isso somente recebeu os dados que deveriam constar do contrato, inclusive os da empresa intermediadora e de seu representante. Verificou que o CNAE da empresa não incluía a atividade de intermediação, mas, em sua opinião jurídica, isso não era impeditivo, pois havia outras atividades relacionadas que permitiriam a atuação, como esclareceu ao ser ouvido, o que também fez o então Diretor Jurídico Adjunto, igualmente na condição testemunha. Tampouco tem importância o capital social da empresa, porque, obviamente, para realizar uma intermediação, esse item é absolutamente irrelevante. Yun nunca mais foi chamado a depor, nem lhe foi oficialmente comunicada a decisão abusiva de transformá-lo em investigado, do que veio a saber por matéria jornalística. Em razão disso, seus advogados pediram acesso aos autos, tendo o Delegado de Polícia chegado a despachar que não poderia encerrar o inquérito sem que esse acesso fosse dado, para que então Yun pudesse exercer sua defesa – embora, diga-se, nenhum fundamento tenha sido indicado para que ele fosse tratado como investigado. Foi apresentada manifestação defensiva, com juntada de documentos comprobatórios das alegações feitas, mas, surpreendentemente, já no dia seguinte sobreveio despacho de indiciamento, cujo fundamento está apenas no título, porque é peça rasa, antijurídica e contrária aos elementos dos autos. O despacho nem mesmo se refere ao conteúdo da petição de Yun, muito menos os tenta rebater, numa evidência de que já estava pronto e seria lançado fosse qual fosse a manifestação defensiva. Ao contrário de se omitir, Yun agiu e o fez como advogado, não lhe cabendo responsabilidade pela escolha das partes no contrato. Seguramente, o Poder Judiciário corrigirá tal ignomínia, para restabelecer a ordem jurídica aviltada pelo indiciamento obrado.
Além de Yun Ki Lee foram indiciados pela polícia na investigação sobre o caso de Vai de Bet, o presidente afastado do Corinthians Augusto Melo, dois ex-dirigentes do clube, Marcelo Mariano e Sérgio Moura, e o responsável declarado por intermediar a negociação, Alex Cassundé.
As autoridades policiais levaram em conta algumas inconsistências nos depoimentos dos envolvidos, principalmente sobre a suposta intermediação do contrato entre a empresa de apostas e o clube do Parque São Jorge, na zona leste de São Paulo.
Nos autos investigativos, os depoimentos convergem tanto na questão do encontro entre Alex e Augusto, quanto a atuação do intermediário. A polícia tem certeza que não foi Cassundé quem intermediou a negociação entre a empresa e o clube. Segundo o inquérito policial, quem aproximou o empresário do clube foram outras três pessoas: Antônio Pereira dos Santos, Sandro dos Santos Ribeiro e Washington de Araújo Silva. “Isso nos está muito claro”, diz o inquérito.
Após relatado, o documento policial deve ser encaminhado ao Ministério Público do estado (MPSP), que analisará o inquérito e decidirá sobre o oferecimento de uma denúncia à Justiça. Caso esse processo seja apresentado e aceito, Augusto Melo e os outros três envolvidos viram réus em um processo judicial pelos crimes citados.
O que diz Augusto Melo
Na noite do indiciamento, no dia 22 de maio, Augusto Melo já havia se manifestado.
Leia a íntegra do comunicado:
“A defesa do presidente Augusto Melo recebeu com incredulidade e indignação o relatório final do inquérito, divulgado na noite desta quinta-feira (22), e informa que fará suas considerações oficiais assim que concluir a análise integral do documento.
Reitera-se a convicção de que o presidente Augusto Melo não possui qualquer envolvimento com eventuais irregularidades relacionadas ao caso.
O presidente foi o responsável por viabilizar o maior contrato de patrocínio máster do futebol sul-americano, tendo recebido a proposta, encaminhado aos departamentos competentes e firmado o contrato com a aprovação de todos os setores envolvidos. Esse foi o único papel desempenhado por ele no processo”.
Fonte: Metrópoles