No último dia 3 de maio, Lady Gaga emocionou uma multidão em Copacabana, no Rio de Janeiro, ao reunir mais de 2 milhões de pessoas com um show gratuito.
No entanto, muitos ainda lembram que, em 2017, Gaga teve que cancelar sua participação no Rock in Rio por motivos de saúde. A razão: complicações causadas por uma de suas doenças, fibromialgia.
Além da fibromialgia, a cantora convive desde 2010 com o lúpus, doença autoimune ainda pouco compreendida pela população geral.
Ao expor sua condição, Gaga deu visibilidade a milhões de pessoas que enfrentam os mesmos desafios. Outras celebridades como Selena Gomez e Halsey também vivem com a condição.
10 de maio foi estabelecido como Dia Mundial do Lúpus em 2004 pela Organização Mundial do Lúpus (WLF – sigla em inglês) buscando chamar a atenção para a doença que afeta mais de 5 milhões de pessoas globalmente.
O que é lúpus?
O lúpus é uma doença inflamatória de origem autoimune. Isso significa que o sistema imunológico — cuja função normal é defender o organismo contra agentes infecciosos — começa a atacar células e tecidos saudáveis do próprio corpo.
A Sociedade Brasileira de Reumatologia estima entre 150 mil a 300 mil pessoas no Brasil vivendo essa realidade.
Rodrigo Azevedo, médico reumatologista e preceptor do Serviço de Reumatologia do Hospital Geral Dr. César Cals, aponta que a doença pode atingir múltiplos órgãos.
“O lúpus pode afetar pele, articulações, rins, coração, sistema nervoso e vários outros sistemas”, explica. A enfermidade é mais comum entre mulheres jovens, principalmente entre 15 e 45 anos de idade.
Os primeiros sintomas costumam ser sutis e facilmente confundidos com sinais de cansaço ou estresse, como fadiga intensa, dores e inchaço nas articulações (especialmente pela manhã) e lesões avermelhadas na pele que pioram com a exposição solar.
Diagnóstico e desafios do lúpus
O diagnóstico do lúpus é clínico, baseado na soma de sintomas e exames laboratoriais que detectam inflamações e autoanticorpos.
“Não existe um único exame que confirme o lúpus”, destaca Azevedo. O profissional mais indicado para acompanhar casos da doença é o reumatologista.
Em locais com acesso limitado a especialistas, é comum o paciente passar antes por clínicos gerais, que encaminham aos centros de referência quando necessário.
Os diferentes tipos de lúpus
Existem quatro formas principais de manifestação da doença:
- Lúpus eritematoso sistêmico (LES): o tipo mais comum e potencialmente grave, pode comprometer diversos órgãos.
- Lúpus cutâneo (ou discoide): se restringe à pele, com lesões avermelhadas, muitas vezes no rosto e couro cabeludo.
- Lúpus induzido por medicamentos: desencadeado por certos remédios. Geralmente, os sintomas desaparecem após a suspensão do fármaco.
- Lúpus neonatal: condição extremamente rara que afeta recém-nascidos de mães com lúpus. Os sintomas costumam desaparecer nos primeiros meses de vida.
A relação entre lúpus e exposição solar
A exposição ao sol é um dos principais gatilhos para o surgimento ou agravamento dos sintomas.
“Manchas na pele são típicas nas áreas expostas, como rosto, braços e colo. O sol danifica as células da pele e, para quem tem predisposição autoimune, isso ativa a inflamação”, alerta o reumatologista do Hospital Geral Dr. César Cals.
Além disso, fatores emocionais como estresse e traumas podem contribuir significativamente para as crises. “Eventos emocionais são gatilhos importantes. Por isso, é fundamental também cuidar da saúde mental.”
Tratamento do lúpus: avanços e esperança
Apesar de não haver cura para o lúpus, os tratamentos evoluíram muito nos últimos anos.
Surgiram terapias biológicas, que permitem intervenções mais específicas. “Hoje conseguimos personalizar o tratamento. Muitos pacientes já conseguem viver sem o uso contínuo de corticoides”, afirma Azevedo.
O objetivo principal é manter a doença em remissão, prevenindo crises e complicações a longo prazo. Com o acompanhamento adequado, muitos pacientes podem levar uma vida ativa, produtiva e sem limitações severas.
A importância do suporte emocional
Conviver com uma doença crônica pode gerar sentimentos de medo, ansiedade e isolamento. Por isso, o acompanhamento psicológico é tão importante quanto o tratamento físico.
“Família, amigos e grupos de apoio fazem a diferença no enfrentamento da doença. Precisamos falar sobre isso, combater o preconceito e garantir acolhimento”, reforça o especialista.
Lúpus mata?
Infelizmente, o lúpus pode, sim, ser fatal. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a doença causa cerca de mil mortes por ano no Brasil.
A mortalidade está relacionada a complicações como insuficiência renal, infecções e comprometimento do sistema nervoso central — principalmente quando o diagnóstico e o tratamento são tardios.
Conscientização e diagnóstico precoce salvam vidas
O dia 10 de maio é o Dia Mundial do Lúpus e o mês de maio é conhecido como Maio Roxo, uma campanha voltada para a conscientização sobre doenças inflamatórias crônicas e autoimunes, como o lúpus.
“Quando identificada precocemente, a doença tem bom prognóstico e pode ser controlada. O problema é que muitos ignoram os sinais iniciais por acharem que são apenas estresse ou sobrecarga”, alerta Azevedo.
Onde buscar ajuda?
Caso ocorra a apresentação de sintomas como fadiga persistente, manchas na pele que não desaparecem, dores articulares ou alterações inexplicadas nos exames de sangue, especialista indica a procura de atendimento médico.
A orientação inicial pode ser feita por um clínico geral, mas o especialista responsável pelo diagnóstico e tratamento do lúpus é o reumatologista.
Fonte: Contilnet