A economista Antônia Tavares, carinhosamente conhecida por Beth Oliveira, é um dos grandes talentos da escrita acreana, também apaixonada por arte, cultura e gênero. Rio-branquense de 51 anos, criada no bairro Seis de Agosto, é autora de diversos artigos técnicos e científicos nas áreas de economia do meio ambiente, desenvolvimento sustentável, segurança pública e justiça.
Ela, que é autora do livro de contos e poemas “Loucas e bruxas”, estuda violência de gênero contra as mulheres e escreve manifestos feministas desde 2009, dedicada também a estudos sobre feminicídios no Acre. Beth é ganhadora do Prêmio da Diversidade Rogério Sabino da Paciência, edição 2010.
Neste Dia Mundial da Poesia, Beth compartilhou com a Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB), coordenação Acre, uma poesia em homenagem a acreana, ministra do Meio Ambiente, Maria Silva, O texto literário foi considerado um dos mais inspiradores dos últimos tempos uma vez que remete a uma mulher que conhece as lutas e vivências da Amazônia, tornando-se uma das maiores referências de ética, força e representação de gênero, raça e sustentabilidade no Brasil e no mundo.
OS MISTÉRIOS DE MARINA
Este poema é dedicado à Ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Todo mundo e o mundo todo sabe que a Marina é um mistério. Tal qual uma esfinge – e, como Clarice Lispector, ela própria é um labirinto. O sistema ainda teima em perguntar: como pode uma preta, filha de família humilde, que foi analfabeta até a adolescência, chegou ao Senado da República sem ser para limpar o chão? E, ainda mais, ocupar, meu Deus, a cadeira de Ministra?
Sim, é verdade. Talvez, esse seja o grande mistério de Marina. Sim, ela é uma mulher e possui suas opiniões, suas crenças, seus valores. Ah, talvez esse também seja um dos mistérios de Marina. Quanto mais mistério maior é o poder de uma mulher. Oh, céus! Não podemos esquecer da fatalidade: Marina foi amiga de Chico Mendes, filha do Cumpadi Pedro da Cidade Nova! Uhl! Marina tem tantos mistérios, mas o maior de todos eles é que ela é uma fêmea que tem dois braços e anda com os pés na cabeça.
O SEGREDO DA MULHER
Toda mulher guarda sobre si um segredo que é só seu,
aquilo que só ela sabe sobre si mesma.
Se for revelado, seus poderes são destruídos,
diziam os antigos, de olhos fundos como os rios antes da cheia.
No fundo do peito, sob a pele da noite,
há um nome jamais pronunciado.
Está guardado entre as costelas,
onde a lua derrama seu vinho invisível.
Este segredo é seu brilho sagrado,
a luz de sua estrela, o seu maior tesouro.
Ninguém pode vê-lo —
nem os homens de palavras de ferro,
nem as sombras que se arrastam pelas paredes da casa.
Ele é fio e faca, cicatrizante e lume,
é a força de uma floresta que renasce
depois do fogo ter lambido sua raiz.
Se alguém o ouvisse, ele seria vento dissipado,
seria seiva vertida no chão seco,
seria pássaro sem rumo, esquecendo a dança do voo.
Por isso, a mulher caminha em silêncio,
mesmo que tente enforcar a sua fala,
sabendo que seu segredo é maré oculta.
Ela sorri, porque dentro dela
há um nome que só a terra e os deuses conhecem:
o segredo dela.