O solo úmido e recentemente arado, juntamente com seu baixo peso corporal e posição de queda, salvaram sua vida. Ainda assim, ela teve uma fratura na pélvis, a coluna fraturada em quatro lugares, costelas quebradas e um pulmão colapsado, mas ela estava viva.
Verdade começa a vir à tona
Enquanto ela se recuperava no hospital, a Associação Britânica de Paraquedistas iniciou uma revisão de seu equipamento. Foi então que a verdade começou a surgir: descobriram que as cordas do paraquedas principal haviam sido cuidadosamente emaranhadas e que o paraquedas reserva estava com peças faltando. A partir desses detalhes, descobriu-se que não foi um erro técnico ou um acidente: alguém havia sabotado o equipamento com a intenção de matá-la.
Quatro semanas após o acidente, enquanto Victoria se recuperava em casa após várias cirurgias, a polícia revelou o que ela não esperava: seus paraquedas não falharam por acidente, eles foram sabotados intencionalmente, e o principal suspeito era seu marido, Emile Cilliers. O impacto daquela revelação foi tão profundo que, por mais que ele ouvisse a explicação, recusava-se a acreditar.
Durante a gravidez, Victoria já notava sinais preocupantes em seu relacionamento com Emile: ele desaparecia sem aviso, tinha uma amante e até filhos escondidos na África do Sul. Ele também mentiu sistematicamente, manipulou suas contas bancárias e a fez se sentir culpada em todas as discussões. Apesar de suas suspeitas, ela escolheu acreditar nele por medo de ficar sozinha e criar seus filhos sem ele. Aos poucos, ela se tornou uma mulher que concordava com tudo para evitar conflitos, mesmo quando Emile retomava o contato com uma ex pelas costas dela.
Nesse contexto de fragilidade emocional, Emile a encorajou a voltar a praticar paraquedismo. No sábado de Páscoa, eles foram ao campo de aviação com os filhos, e o homem ficou responsável pelo equipamento de Victoria, então passou vários minutos sozinho com sua mochila. Devido ao mau tempo, o salto foi remarcado para domingo.
Naquele dia, Emile ficou em casa, mas enviou mensagens gentis, convencendo-a a não cancelar. Victoria sentiu pela primeira vez em muito tempo que ele se importava com ela, sem saber que estava prestes a enfrentar algo muito mais sombrio.
Além das infidelidades, mentiras e manipulações, a polícia não conseguiu estabelecer uma ligação direta entre o comportamento de Emile e uma tentativa deliberada de assassinato. Até que Victoria se lembrou de algo perturbador que havia acontecido apenas seis dias antes do salto de paraquedas fracassado: em uma manhã, enquanto descia para a cozinha, sentiu um forte cheiro de gás.
Ao verificar as válvulas, ela notou uma mancha de sangue e imediatamente escreveu para Emile, perguntando, em tom de brincadeira, se ele estava tentando matá-la. Por sua vez, ele respondeu naturalmente e negou ter tocado na válvula, embora mais tarde ela tenha descoberto que ele não tinha ido trabalhar naquele dia, mas sim ver sua amante.
Somente cinco meses depois os relatórios dos especialistas confirmaram o que Victoria já começava a temer: o vazamento de gás não havia sido acidental. Os especialistas descobriram que as válvulas tinham sido forçadas a abrir com uma chave-inglesa, uma ferramenta que deixava marcas inconfundíveis. Com essas evidências técnicas em mãos, os investigadores decidiram interrogar Emile pela terceira vez, convencidos de que finalmente tinham uma indicação clara de que ele havia tentado matá-la.
Em outubro de 2017, durante o julgamento, Victoria surpreendeu ao se retratar de algumas declarações anteriores, o que levou a crer que ela ainda estava sob influência de Emile e tentava protegê-lo. Por causa disso, o júri não conseguiu chegar a um veredito, e o julgamento foi anulado, permitindo que Emile fosse solto em novembro daquele ano. No entanto, os promotores não desistiram, e, em maio de 2018, o levaram novamente a julgamento.
Desta vez, eles apresentaram evidências muito mais convincentes: mensagens com mulheres e prostitutas enquanto Victoria estava hospitalizada, pesquisas na internet relacionadas à amamentação de recém-nascidos e provas de que ele havia desperdiçado o dinheiro de Victoria. Além disso, especialistas o descreveram como um “sociopata narcisista”, sem empatia, sem remorso e com uma perigosa obsessão por esportes radicais.
Após um julgamento de seis semanas, o júri o considerou culpado de ambas as tentativas de homicídio, e Emile foi condenado à prisão perpétua, com um mínimo de 18 anos antes de poder obter liberdade condicional. Embora o juiz tenha sido direto ao apontar sua insensibilidade e falta de remorso, Victoria demorou a cortar completamente os laços. Foi relatado que ela o visitou na prisão por algumas semanas para tentar encerrar sua história, mas ela sentiu que ele estava tentando manipulá-la novamente. Um ano depois, ela tomou a decisão final: pedir o divórcio e abandonar o relacionamento de vez.
Hoje, aos 48 anos, Victoria Cilliers conseguiu reconstruir sua vida após ser brutalmente traída pelo ex-marido. Apesar das cicatrizes físicas deixadas pela tentativa de homicídio — ela tem uma peça de metal nas costas e vários parafusos no corpo —, ela encontrou o amor novamente graças a Simon Goodman, um ex-fuzileiro naval e paramédico que estava presente no dia do salto fracassado e também serviu como testemunha no julgamento.
Em outubro de 2024, eles se casaram, selando um vínculo marcado por compreensão e respeito. Depois de anos de manipulação e dor, Victoria finalmente conseguiu encerrar o capítulo sombrio e ser feliz novamente.
Marina Pinheiro, Agência ContilNet