Sob Trump, abordagem a imigrantes e turistas que tentam entrar nos EUA fica mais agressiva: ‘não consigo lembrar de nada pior’

Uma professora da Universidade Brown deportada após retornar de uma viagem ao Líbano. Uma atriz canadense detida ao tentar renovar seu visto de trabalho em um posto de fronteira. Um cidadão alemão com direito a residência permanente nos EUA retido ao desembarcar no aeroporto em Boston. O que antes poderia ser considerado um caso isolado, agora parece estar se tornando a regra no tratamento dispensado pelas autoridades de imigração americanas, alertam especialistas.

Desde que Donald Trump voltou a ocupar a Presidência dos Estados Unidos, as autoridades de imigração americanas adotaram uma abordagem mais agressiva ao questionar imigrantes e turistas que tentam entrar no país. Segundo advogados e ex-funcionários do setor, os agentes estão examinando com mais rigor os vistos e retendo viajantes com maior frequência, mesmo em casos de infrações menores.

Em seu primeiro dia no cargo, Trump assinou uma ordem executiva exigindo a aplicação de medidas rigorosas de triagem para solicitantes de visto e green card (direito a residência permanente), incluindo estrangeiros que retornam ao país. Especialistas acreditam que a diretriz aumentou a pressão sobre os agentes para identificarem mais irregularidades, como parte de um esforço para restringir a entrada de imigrantes. O governo justificou a política com base em preocupações de segurança nacional.

Lucas Sielaff, um encanador alemão de 25 anos, viajava do México para os EUA com sua noiva, uma cidadã americana, quando foi detido em um posto de controle na fronteira. Algemado e impedido de falar com um advogado ou ter acesso a um tradutor, ele foi acusado de estar morando ilegalmente no país, apesar de afirmar que retornaria à Alemanha antes do prazo de 90 dias permitido para turistas. Sielaff ficou detido por 16 dias em um centro de imigração em San Diego, na Califórnia, até ser autorizado a comprar uma passagem de volta para casa.

Outro caso envolvendo um cidadão alemão ganhou notoriedade internacional. Fabian Schmidt, que tem green card, teve de ser transportado para o hospital após ser retido ao desembarcar no Aeroporto Logan, em Boston, onde foi submetido a um interrogatório agressivo. De acordo com a sua mãe, ele sofreu uma revista íntima e foi colocado sob um chuveiro frio. Agora, após quase duas semanas de detenção, as autoridades ainda não formalizaram nenhuma acusação contra ele.

“Não consigo me lembrar de nada tão extremo”, disse Gil Kerlikowske, diretor da agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) do ex-presidente Barack Obama, ao Wall Street Journal (WSJ).

A situação gerou preocupação entre empresas, universidades e estrangeiros que vivem ou trabalham nos Estados Unidos. Instituições de ensino começaram a alertar estudantes e professores internacionais sobre o risco de viagens ao exterior. A Universidade Brown, por exemplo, recomendou que seus alunos e funcionários estrangeiros evitassem sair do país, após uma de suas professoras ser deportada ao retornar de uma viagem ao Líbano, mesmo possuindo visto de trabalho válido.

Além do aumento nas detenções, o governo implementou novas exigências para solicitantes de visto, como a necessidade de fornecer identificações de redes sociais durante o processo. Ao mesmo tempo, as autoridades passaram a inspecionar com mais frequência celulares e dispositivos eletrônicos de viajantes nos aeroportos.

“Acho que a chance de isso acontecer com alguém ainda é baixa, mas definitivamente aconselho as pessoas a terem muito cuidado com o que está em suas redes sociais e seus dispositivos”, disse Dan Berger, um advogado em Boston que aconselha universidades e hospitais em questões de imigração, ao WSJ.

A atriz canadense Jasmine Mooney (“American pie: O livro do amor”) relatou ter sido vítima da nova abordagem mais rígida da imigração americana. Ao tentar renovar seu visto de trabalho em um posto de fronteira – um procedimento anteriormente permitido para cidadãos canadenses –, ela foi detida por 12 dias em dois centros diferentes antes de ser autorizada a retornar ao Canadá.

Em um relato público, Mooney destacou que, mesmo tendo passaporte canadense, apoio de advogados e ampla cobertura da imprensa, enfrentou grandes dificuldades.

“Se isso aconteceu comigo, que tive suporte de amigos, familiares e até de políticos, imagine o que ocorre com aqueles que não têm esses privilégios”, escreveu.

Vanusa

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