Sebastião Alves Sussuarana, assassinado aos 48 anos, morto por um policial militar após esfaquear um homem e persegui-lo até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Rua da Sobral, numa ocorrência registrada na manhã do último domingo (4), um caso suspeito em que o Ministério Público do Acre (MPAC) está exigindo completa investigação, não só deixou de existir como também virou apenas um número. Número de uma estatística fria em que Tião Sussuarana, um viciado em drogas e que vivia em situação de rua, passou a ser mais um de uma lista de 45 mortos no Acre num período de dois anos, em ações da Polícia Militar.
As estatísticas apontam para um total de mais de dois mortos a cada mês, o que torna a Polícia Militar do Acre uma das mais letais do país, segundo dados revelados pela Coordenação de Dados Estatísticos do Departamento de Inteligência da Polícia Civil. Os dados apontam que a maioria das vítimas era composta por pessoas pardas e negras. No caso de Sebastião, além dos itens relacionados à cor, ele tinha, como outras vítimas, mais um fator que agrava a violência policial: era pobre, um tipo de gente que os assassinados fardados não perdoam, principalmente se a futura vítima dos disparos, como Sussuarana, estiver envolvida em alguma ocorrência policial que poderia ter, sim, outro desfecho.
A capital Rio Branco concentrou o maior número de assassinatos por militares, com 17 mortes no período/ Foto: ContilNet
Testemunhas disseram que o homem abatido parecia assustado e, cujas condições físicas, apesar de portar uma faca com a qual havia ferido uma pessoa, poderia ter sido contido com um tiro numa região não letal, como as pernas, por exemplo. “O vídeo mostra as condições físicas do homem e que os três tiros que ele sofreu, na região do tórax, não foram por acaso. Quem atirou sabia o que queria fazer e qual o resultado: a morte”, disse uma pessoa que comentou o vídeo sobre o assassinato e que, por óbvio, pediu para não ser identificada. “Por isso, o MPAC precisa investigar isso a fundo, porque os que atiraram contra aquele pobre homem, apesar da violência e insanidade, não têm preparo para servir a uma corporação cujo lema é proteger e servir. Do jeito que alguns PMs atuam, é preciso que alguém proteja pessoas pobres, pardas e negras da ação desses monstros”, disse outra pessoa sobre o mesmo episódio.
Nas demais ocorrências do gênero e em relação aos dois anos pesquisados, a capital Rio Branco concentrou o maior número de assassinatos por militares, com 17 mortes no período. Em seguida aparecem os municípios de Brasileia, com cinco mortes, Cruzeiro do Sul com quatro e Plácido de Castro com outros quatro casos. Outros casos também foram registrados em outras localidades do Estado, totalizando 45 mortes ao longo de pouco mais de dois anos.
A violência policial afetou majoritariamente homens: 43 vítimas, o equivalente a 95,56% dos casos. Apenas duas vítimas eram mulheres. Em relação à letalidade anual, 2022 foi o ano mais violento, com 19 registros. Em 2023, foram 15 casos, seguidos por 10 em 2024. Até o momento, em 2025, apenas uma morte foi registrada, justamente a de Sussuarana.
As armas de fogo foram utilizadas em 97,78% das ocorrências, enquanto 2,22% envolveram armas brancas. Do total de mortes, 36 ocorreram durante ações policiais (em serviço) e 8 fora do horário de serviço. O recorte racial revela que 33 vítimas (73,33%) eram pardas, enquanto 8 (17,78%) eram negras. Também houve uma vítima indígena e uma branca, representando 2,22% cada.
Quanto às instituições envolvidas nas mortes, a Polícia Militar foi responsável por 33 casos (73,33%). O Grupo Especial de Fronteira (Gefron) e o Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) responderam por cinco mortes cada (11,11%), enquanto a Polícia Civil esteve envolvida em dois casos (4,44%).
Fonte: Contilnet